domingo, 16 de fevereiro de 2014

Sob a perspectiva da familia da brasileira após a mudança para a Turquia.

E A FAMILIA , O QUÊ DIZ?


Qual o seu nome, idade e profissao, cidade e pais?

Ivaldo Martins Boggione, 32, Engenheiro Agrônomo, Belo Horizonte-Brasil (Irmao caçula da dona do Blog!)

O que sentiu quando sua irmã tomou a decisão de se casar e ir morar na Turquia? E seus pais e família: como reagiram a mudança?

Eu tinha apenas 19 anos quando ela iniciou o namoro com um turco, as informações não eram muitas sobre o país e seus habitantes, apenas um estereótipo de um país muçulmano. O namoro durou um pouco mais de um ano e ele visitou o Brasil neste período se comportando, pelo menos naquele momento, de forma cosmopolita e polida o que tranqüilizou tanto a mim quanto aos nossos pais. As diferenças inerentes a quaisquer pessoas nascidas em locais diversos eram minimizadas no seu comportamento de tolerância perante nossa cultura, incluindo religião, música, comidas e próprio jeito de viver, reforço que isto tudo ocorreu antes deles tomarem a decisão de casar e morarem juntos na Turquia.

Mesmo de longe, como percebeu ter sido a adaptção dela na Turquia?
Sim. Minha irmã sempre nos escrevia e mails e a internet era um meio prático em tempo real de saber tudo que ocorria. Ela nunca escondeu as alegrias e tristezas que viveu e vive na Turquia. Não houve censura por parte do marido. Não sei se foi pela sua personalidade forte ou se realmente há esta liberdade.

Quando no Brasil, quais, se existentes, eram as diferenças visíveis em sua irmã?
Minha irmã sempre foi uma pessoa independente e muito inteligente, ingredientes não muito apreciados por muitos homens na Turquia. Sua mudança de país não conseguiu destruir totalmente este espírito, tanto que sempre trabalhou desde sua chegada no país. As mudanças que percebi nestes 13 anos principalmente quando ela volta ao Brasil, quanto ao jeito de vestir, com roupas mais largas e o receio de reclamar com algum estranho algo de errado ou que incomoda. Ela fica tensa em certos locais, mas aí eu lembro que ela está no Brasil e tudo se resolve.

Como era seu relacionamento com seu cunhado turco? Qual era a impressão dele à respeito do Brasil?
Ele é um homem culto, polido e extremamente político. Na ocasião do namoro permaneceu por mais de um mês no Brasil no período de festas de fim de ano, logo foi possível ele perceber como era a dinâmica de uma sociedade ocidental e cristã/católica. Ele se comportou de forma educada durante todo o tempo se interessando por tudo, até porque era novidade, tudo muito exótico aos seus olhos. Obviamente nossa relação era a melhor possível, pois havia respeito entre as diferenças. Após o casamento e principalmente após o nascimento do filho houve uma mudança nítida. O Brasil já não era um país descente para criar uma criança, pois não tínhamos valores que os turcos têm. As visitas se tornaram um martírio para todos, pois em menos de uma semana de suas estadias no país seu humor já era insuportável e muitos conflitos aconteciam. Os períodos se tornaram cada vez mais curtos, até que sua última vinda ao país não durou mais de 5 dias.

Se for o caso, quais as situações que você e sua familia acharam alarmantes a respeito do relacionamento da sua irmã e seu esposo?
Após o nascimento do filho toda a família turca, principalmente e os sogros da minha irmã se mostraram rudes. Nas visitas que fazíamos era percebida a forma como nos tratavam quando estávamos próximo a criança. Ficamos com receio de que pudessem por algum motivo que seja, retirar este menino da minha irmã. Frases ditas por meu sobrinho ensinadas por eles para que fosse dito a nós até hoje nos assustam. Por exemplo: “Eu sou turco e não vou morar no Brasil!” “Eu amo a Turquia e vou morrer na Turquia”. Isto é dito aleatoriamente por ele depois que vem do convívio com eles. Usam uma criança para realizar os seus anseios, não dando a liberdade de escolha e livre arbítrio para que, quando adulto, ele decida o que seja melhor para ele, quase uma lavagem cerebral.

Você ja esteve na Turquia? Conte um pouco dos aspectos positivos e negativos.

Sim, por cinco vezes em temporadas longas.

Positivos:
Violência urbana: Praticamente inexistente. Eu me senti muito seguro pelas ruas das cidades em qualquer horário, mas sou homem, não sei se mulheres se sentiram desta forma.
Alimentação: Comida saudável, muitos vegetais.
Custo de Vida: Muito mais baixo que o Brasil em serviços equivalentes.

Negativos:
Violência contra a mulher: Presenciei por duas vezes, uma vez em Ankara um homem batendo em uma mulher num parque e na minha última ida em 2011 no Parque Gülhane em Istanbul uma mulher ajoelhada sendo espancada pelo companheiro, policiais não fizeram exatamente NADA. Alguns outros turistas pediram ajuda e eles fingiram que não entenderam.
Terrorismo: É muito incômodo os procedimentos de entrada em shoppings e supermercados, detector de metais, espelho embaixo do carro, raio x. Aglomerações em regiões centrais acontecem eventualmente explosões de bombas, é um pouco assustador. Até em Taksim houve explosão de bomba em 2010.
Alimentação: Carne tem um gosto inexplicavelmente horrível.

Você tem um sobrinho de 7 anos fruto da união de sua irmãe seu ex-cunhado. Como avalia a criança em termos de adaptção a ambas culturas?

Tenho a oportunidade de conviver com meu sobrinho tanto aqui quanto na Turquia e percebo que não há mudança nítida da forma como se comporta em ambas as culturas. Ele é um garoto muito doce e sabe se comportar para com cada família. Apesar da lavagem cerebral, ele ainda não despreza a sua outra metade. Ele mora na Turquia, logo ele é turco com uma mãe brasileira seu contato com nossa cultura é mais restrito, porém muito natural e não percebo qualquer alteração de humor ou desconforto por ele quando passa férias aqui. Ele tem apenas sete anos, só os próximos ano dirão como ele se comportará.

Finalmente, deixe uma mensagem para as famílias das brasileiras que planejam casar-se e mudar para a Turquia.

As famílias devem sim intervir antes da mudança, pesquisar a fundo qual a nova família como a cidade de origem e formação, a sociedade é heterogênea apesar de não haver miscigenação como nós. Pode haver famílias mais tolerantes quanto menos e descobrir isto na Turquia pode ser tarde demais. Lembrem que as suas filhas mudarão para o outro lado do mundo e para uma cultura nada semelhante a nossa. Infelizmente isto não é suficiente para esclarecer, então entrem em contato com quem já mora e está casada no país. Não deixem que o romantismo de um “príncipe” turco se transforme num pesadelo futuro. Morar na Turquia não é conto de fadas.

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